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Os enganados
(Al-makhdu'un)
Tewfik Saleh | Síria | 1972, 107', 35 mm para DCP restaurado
Fonte da cópia: Cineteca di Bologna (World Cinema Project)
 

Abu Quais (interpretado por Mohamed Kheir-Halouani), um camponês palestino de meia-idade que vivia da plantação de azeitonas, perde suas terras após a Primeira Guerra Árabe-Israelense em 1948 e sobrevive com sua família em um acampamento para refugiados. Asaad (Bassam Lutfi), um desiludido ativista político procurado pela polícia, desiste da luta armada em prol do dinheiro. Marwan (Salih Khalqi), com apenas 16 anos, deixa a escola em busca de sustento para sua mãe e seus irmãos mais novos, após o pai ter abandonado a família. O caminho dos três conterrâneos em fuga se cruza na cidade portuária de Basra, no Iraque, na busca de contrabandistas para ajudá-los a fazer a travessia pelo deserto para o rico Kuwait, onde há ofertas de trabalho e a promessa de uma vida melhor. Eles então se deparam com Aboul Kheizaran (Abdul-Rahman Al Rashi), um ex-soldado palestino que lutou na guerra de 1948 e foi violentamente ferido em um bombardeio, tendo seu membro sexual amputado. Com o corpo e a moral aleijados, Aboul Kheizaran tornou-se um mercenário que ganha a vida dirigindo um caminhão de água e eventualmente transportando imigrantes ilegais por um preço inferior ao dos outros contrabandistas. Dentro de um incandescente tanque de água vazio, os três homens precisam se esconder para cruzar dois postos alfandegários, durante um período que seu guia promete ser de apenas alguns minutos, enquanto ele pega os carimbos para a travessia. Mas será que sua promessa será cumprida?
 
O filme Os enganados baseia-se no livro Homens ao sol (1963), o curto romance de estreia do importante escritor e ativista político palestino Ghassan Kanafani (1936-1972), que vislumbrou sua história como uma alegoria para o sofrimento e a auto exploração constante do seu povo. Ele colaborou no roteiro com o grande cineasta egípcio Tewfik Saleh, que fez do filme seu sexto longa-metragem, e o primeiro realizado fora de seu país natal, em uma produção financiada pela Organização Nacional de Cinema da Síria (NFO). Saleh manteve fidelidade ao livro, inclusive em brilhantes sequências de montagem que expressam o movimento fluido entre o passado e o presente dos personagens conforme eles cruzam o deserto (fotografado de forma espetacular pelo cinegrafista sírio Bahgat Heidar). O cineasta ainda ampliou a crítica de Kanafani à negligência do mundo árabe sobre o destino dos palestinos, um gesto que adiou a produção de Os enganados por quase dez anos e resultou em sua censura na maioria dos países em questão.
 
Mesmo assim, o filme teve uma carreira bem-sucedida em festivais, passando em Cannes, Cartago, Locarno e Moscou, entre outros. Com uma mistura inquietante de thriller e drama moral - cuja força é alimentada por elementos documentais -, Os enganados foi reconhecido como uma das obras incontornáveis do cinema árabe, além de um dos primeiros filmes de ficção a enfrentar a questão palestina com seriedade. O filme foi restaurado em 2023 pelo World Cinema Project, da Film Foundation, e pela Cinemateca de Bolonha, em colaboração com a NFO e a família de Tewfik Saleh. O financiamento para a restauração foi dado pela Hobson/Lucas Family Foundation, e agradecimentos especiais são devidos a Mohamed Challouf e Nadi Lekol Nas por suas participações no processo de restauro.
 

                   
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