<< |
Pegue suas malas + A butique KKK...
Camille Billops/James Hatch | EUA. | 1994-1998, 88', 16 mm para DCP No curta-metragem Pegue suas malas, comissionado para o National Black Arts Festival, em Atlanta, Camille Billops reflete sobre a apropriação cultural a partir de sua visão sobre a escravidão dos africanos nos Estados Unidos - a qual ela compartilha em cena ao lado de um primo distante, um menino atencioso chamado Keita Omawale Erskine, usando uma linguagem lúdica. Ela diz no filme: "Quando as pessoas escravizadas embarcaram no navio com destino às Américas, na Passagem do Meio, elas foram recebidas por um oficial acolhedor, que cuidadosamente colocava suas malas em um local onde todos podiam ver. O oficial garantiu que elas seriam retornadas no final da viagem. As malas continham todas as experiências de vida. [...] Quando essas pessoas chegaram nas Américas, elas se deram conta de que as malas que tinham entregado ao oficial haviam sido trocadas. E, nas malas que elas receberam, havia outras imagens..." Em A butique KKK não é apenas de caipiras - o único longa-metragem realizado por Billops e James Hatch -, os cineastas convidam seus diversos amigos para um jogo que aborda várias formas de racismo. Em uma mistura de documentário - com entrevistas sobre as experiências de vida dos participantes - e encenações teatrais e satíricas, somos convidados a refletir sobre nossos próprios preconceitos de uma forma surpreendente. Com dinâmicas ácidas e ousadas, os anfitriões desse jogo não perdoam ninguém: independente de raça, cor ou gênero, todos são submetidos ao mesmo escrutínio. Em uma cena inicial, Hatch explica que o filme é uma espécie de jornada dantesca para o inferno e apresenta um mapa com as diferentes etapas pelas quais passarão os convidados. Inicialmente, eles entram numa butique de roupas inspiradas em diferentes entidades, que variam entre símbolos nazistas, capas da Ku Klux Klan (uma sociedade secreta de racistas no sul dos Estados Unidos) e máscaras caricatas para todos os gostos. São convidados a escolher seus trajes de acordo com o que lhes apetece e seguem pelos corredores escuros e apertados que conectam cada ambiente. As performances extremamente irônicas são intercaladas por depoimentos impactantes dos participantes. Na passarela de um desfile chamado "os quatro cantos do mundo fascista", homens e mulheres desfilam as "combinações mais racistas". Uma mulher negra de idade relata que, em 1928, ela e seu marido se hospedaram em um bairro branco, e, no dia seguinte, no outro lado da rua, apareceu uma placa ameaçadora com as iniciais "KKK". Um outro cenário, chamado "o quarto dos inescrutáveis" - um palco decorado com sombrinhas e luminárias orientais -, é descrito por um descendente de chineses como sendo para "pessoas com fantasias asiáticas". Uma mulher branca apresenta sua filha mestiça para a câmera e explica que a perda é de sua família por não querer conhecê-la. Mas, mesmo em meio a tanta raiva, A butique KKK não é apenas de caipiras mantém uma tocante essência humanística, inclusive nas figuras dos diretores, um casal inter-racial que enfrentou preconceito em diversas ocasiões. Em cenas recorrentes ao longo do filme, Billops corta os cabelos de Hatch em um campo de girassóis, e ele desmancha as tranças dela, como atos de intimidade que eles praticam há mais de 30 anos. O programa conta com os filmes: Pegue suas malas Take Your Bags Camille Billops| EUA. | 1998, 11', 16 mm para DCP Fonte da cópia: Third World Newsreel (EUA.) + A butique KKK não é apenas de caipiras The KKK Boutique Ain't Just Rednecks Camille Billops/James Hatch | EUA. | 1994, 77', 16 mm para DCP Fonte da cópia: Third World Newsreel (EUA.) |
MUTUAL FILMS |