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Mudança
Mudanza

Pere Portabella | Espanha | 2008, 20’, HD para DCP (Films 59)
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Puro sangue
Pura sangre

Luis Ospina | Colômbia | 1982, 99’, 35 mm para DCP (Zona A Ltda.)
 

Roberto Hurtado (interpretado por Gilberto “Fly” Ferero) é um fazendeiro de cana-de-açúcar à beira da morte. O velho colombiano possui uma rara doença terminal, que requer “massivas transfusões de sangue” de homens mais novos, explica um médico americano para seu filho Adolfo (Luis Alberto García), que cuida dos negócios da família. Adolfo pretende manter o pai vivo a qualquer custo e, por isso, alista a ajuda dos seus sádicos funcionários. A enfermeira, o auxiliar de enfermagem e o motorista (Florina Lemaitre, Carlos Mayolo e Humberto Arango) começam então a busca ao redor da cidade de Cali por jovens vítimas para extrair-lhes o sangue e não deixar o velho magnata sucumbir por completo.
 
Puro sangue foi o primeiro de apenas dois longas-metragens de ficção dirigidos por Luis Ospina, após uma trajetória notável em curtos documentários. (O outro, Sopro de vida/Soplo de vida, estreou em 1999.) O filme inspirou-se na história real do Monstro dos Mangues, uma figura que causou a morte de mais de 30 meninos em Cali durante a juventude de Ospina, e cuja identidade nunca foi descoberta. O cineasta trabalhou na fronteira entre documentário e ficção, ao misturar cenas roteirizadas com fatos do cotidiano, como notícias de jornal e imagens da vida noturna de Cali. Assim, a obra ganha um ácido teor político e crítico que escancara a vampiresca alta sociedade colombiana, mas também evidencia a tendência de violência da sociedade em geral, que, submetida a décadas de brutalidade, se torna ela mesma impiedosa. Em uma entrevista de 1983, Ospina comentou sobre as dimensões alegóricas do filme: “Basicamente, o que me interessava era a estreita relação entre o vampirismo e o poder”. [1]
 
O curta-metragem que abrirá a sessão também é uma declaração política, dessa vez contra o esquecimento daqueles que foram mortos na Guerra Civil Espanhola pelas forças fascistas que formariam o subsequente regime ditatorial do Generalíssimo Francisco Franco. Mudança foi dirigido pelo catalão Pere Portabella e filmado na Casa-Museu Federico García Lorca (também conhecida como a Horta de São Vicente) em 2008, quando a Espanha passava por uma severa crise econômica. O filme, que foi originalmente comissionado pelo curador suíço Hans-Ulrich Obrist para fazer parte de uma exposição no museu, é uma espécie de registro de performance que consiste na retirada, por uma empresa profissional, de todos os móveis da casa, deixando-a completamente vazia. Enquanto a câmera estuda as salas brancas e silenciosas, a ausência dos objetos se torna uma metáfora para a ausência do poeta que dá nome ao museu, assassinado em 1936 e cujo corpo nunca foi encontrado. Ela também serve como um alerta de ameaça às instituições culturais, que são as primeiras a serem desmanteladas em momentos de crise.
 
Mudança foi filmado com uma câmera digital (Red One) e vai passar no IMS em uma cópia digital de alta resolução. Puro sangue vai passar em uma versão digitalmente restaurada sob a supervisão do cineasta, que faz justiça às impecáveis direção de arte de Karen Lamassonne, fotografia de Ramón Suárez e sonoplastia de Phil Pearle. O tom sombrio e pessimista de Puro sangue originalmente fez com que ele fracassasse nas bilheterias e distanciou Ospina do cinema comercial. Porém, hoje é aclamado como um importante filme de denúncia contra o racismo, a corrupção e a desigualdade social, além de uma obra-prima do cinema de terror colombiano.

 
[1] A fala de Ospina pode ser encontrada em um dossiê sobre seu trabalho, que foi publicada em 1983 em espanhol pela Cinemateca de Bogotá, através do link: CUADERNOS DE CINE COLOMBIANO Nº 10 (pdf)

 
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