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Agarrando pueblo (Os vampiros da miséria)
Agarrando pueblo Luis Ospina e Carlos Mayolo | Colômbia | 1978, 29’, 16 mm para DCP (Bruma Cine) + Vampir-Cuadecuc Pere Portabella | Espanha | 1970, 66’, 16 mm para DCP (Films 59) A palavra “cuadecuc” significa “cauda de minhoca” na língua catalã, e existe como uma gíria que se refere ao final de um rolo de película. A produção catalã independente Vampir-Cuadecuc reconta a famosa história de Bram Stoker ao parasitar o set de filmagem em Barcelona de Conde Drácula (1970), uma produção da Hammer Films com Christopher Lee no papel principal, dirigida pelo emblemático autor de filmes B Jesús Franco. Enquanto Franco fez uma obra de ficção convencional com película 35 mm e som direto, seu compatriota de vanguarda trabalhou com película 16 mm vencida, em alto contraste, e sem captação de som. Portabella ampliou o quadro de visão para expor elementos do set como as câmeras, os refletores e as parafernálias de efeitos especiais. Os atores são flagrados em intervalos de filmagem, ora brincando com a câmera, ora aguardando a próxima tomada. A sonorização do filme, que estreou a longa colaboração entre Portabella e o músico erudito Carles Santos, é composta pela mixagem de ruídos tirados de acervos de sonoplastia dissociados da ação do filme de Franco. São intercalados livremente barulhos da rua, momentos de silêncio e uma música temática convencional, que realçam a estranheza e quase abstração das imagens rugosas e densas. Vampir-Cuadecuc (concebido em parceria com o poeta Joan Brossa) foi o segundo longa-metragem dirigido pelo cineasta catalão, e hoje é considerado um de seus filmes mais cruciais. O filme passou no Festival de Cannes em 1971 e em outros festivais ao redor do mundo. Em uma introdução escrita para uma sessão em 1972 de Vampir-Cuadecuc no MoMA (Museu de Arte Moderna), em Nova York, Portabella descreveu seu “filme-vampiro” como “um dos primeiros filmes marginais feitos em meu país”. [1] Alguns anos depois, os jovens cineastas colombianos Luis Ospina e Carlos Mayolo realizaram um curta-metragem cujo título veio de uma expressão local que significa “tirando vantagem das pessoas”. Agarrando pueblo (Os vampiros da miséria) é um mockumentary sobre uma equipe de filmagem (cujos integrantes incluem os próprios cineastas) que roda um documentário miserabilista na cidade de Cali para uma televisão alemã. O filme de Ospina e Mayolo alterna cenas em preto e branco dos “vampiros” no trabalho de campo com imagens coloridas das pessoas comuns que estão sendo registradas, até o momento em que um homem reivindica o controle sobre sua própria imagem. Os cineastas denunciam a hipocrisia do dito cinema verdade, que se alimenta da miséria alheia para sobreviver, de forma que Agarrando pueblo (Os vampiros da miséria) se torna uma obra imprescindível para a compreensão do cinema político latino-americano. Agarrando pueblo (Os vampiros da miséria) e Vampir-Cuadecuc vão passar no IMS em cópias digitalmente restauradas a partir dos materiais originais dos filmes, que foram depositados por Ospina na Fundación Patrimonio Fílmico Colombiano, em Bogotá, e por Portabella na Filmoteca de Catalunya, em Barcelona. A exibição do dia 7 será seguida por um debate com os pesquisadores brasileiros Lúcia Monteiro e Claudio Leal.
[1] Citado no livro de Portabella Impugnar las normas: intervenciones sobre arte, cine y política (editado por Esteve Riambau), que foi publicado em 2024.
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