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A Sessão Mutual Films apresenta obras de duas maestrinas do cinema independente que realizaram a maior parte de seus filmes entre as décadas de 1950 e 1970. A norte-americana Storm De Hirsch (1912-2000) começou sua vida artística como pintora e poeta e, aos 50 anos, migrou para o cinema. Seus curtas-metragens experimentais, alinhados ao Novo Cinema Americano, foram realizados em super-8 e em 16 mm e oscilam entre a poesia visual silenciosa e a psicodelia ritualística. A documentarista italiana Cecilia Mangini (1927-2021), influenciada pelo neorrealismo, buscou denunciar o comportamento vampiresco do Norte de seu país sobre o Sul (região onde nasceu), o desaparecimento de rituais rurais milenares e a presença fantasmagórica do fascismo na sociedade italiana. Ela realizou grande parte de seus filmes com duração em torno de 10 minutos, seguindo o modelo italiano de documentário Fórmula 10, e trouxe para esse gênero qualidades artísticas excepcionais que levaram décadas para ganhar seu devido reconhecimento. Os filmes de De Hirsch e Mangini passarão no IMS Poços em novas cópias digitais de alta resolução, e a primeira exibição será seguida por um debate com os curadores e Beatriz Castro.
 
Minibio da convidada Beatriz Castro:

Residente em Poços de Caldas/MG, atualmente mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Japonesa pela Universidade de São Paulo (USP), bacharela em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pelotas (2021), trabalhou nas áreas de produção e direção de arte em projetos audiovisuais desde o ano de 2015. Fez cenografia na direção de arte do premiado curta-metragem "Letícia, Monte Bonito 04" (2020), dirigido por Júlia Régis. Atuou também como assistente de produção no documentário "Pot-Pourri" (2021). Em outros trabalhos universitários feitos através da UFPel teve como função: direção, co-direção, produção e produção executiva.

 

 


 
SINOPSES DOS PROGRAMAS
 
Programa 1: “Apresentando Cecilia Mangini” (Dia 24, às 19h, 83min)
 
Começamos com um ritual milenar italiano em celebração à colheita do trigo. Em A paixão do grão (cujo roteiro foi escrito pelo etnógrafo Ernesto De Martino), o medo frente à escassez do inverno leva os camponeses a criar um rito de caça ao bode para disfarçar a ceifa do trigo. A encenação baseia-se em uma tradição que já na época havia desaparecido, e sua teatralização assume um caráter surrealista. Depois chegamos ao fardo da persistência da vida, da velhice. Em Maria e os dias, acompanhamos Maria di Capriati (madrinha de Mangini), uma camponesa anciã italiana que, entre crianças, animais, homens e mulheres, vive uma vida simples e doméstica sem descanso. Carrega consigo as lembranças de uma existência que aos poucos se apaga, como suas velhas fotografias. Adentrando a seara da nostalgia, O canto da margem observa o ritual de lazer de garotos da periferia de Roma. Às margens do rio Tibre, garotos sendo garotos, se engalfinham, se esbofeteiam, nadam, gargalham, comem peixinhos catados ali. A narração de Pier Paolo Pasolini (na última de suas três colaborações com Mangini) traz um outro tempo, o da vida adulta e da lembrança de um passado de pertencimento a essa gangue, da qual hoje, sendo um homem feito, tornou-se inimigo. Da encenação, passamos para a animação e experimentação sonora e visual da cineasta Storm De Hirsch. No brilhante e colorido A rainha do peiote (parte de uma série de filmes da artista chamada A cor do rito, a cor do pensamento), os tambores de uma música tribal africana são acompanhados por imagens caleidoscópicas de luzes e seios que evocam outros rituais de fertilidade e renovação – os do cinema e da cultura pop. Após esse interlúdio, mergulhamos na vida urbana e nos sonhos de trabalho e consumo de um adolescente desocupado. Tommaso segue os passos e pensamentos de um jovem em sua lambreta, dirigindo freneticamente pelas ruas da pequena cidade sulista italiana de Brindisi, onde a recém-construída petrolífera Monteshell já se tornou o desejo inalcançável de trabalho de muitos moradores locais. O programa encerra com um estudo documental sobre o contraste entre a realidade de jovens mulheres italianas de classe operária (entrevistadas por Mangini) e a imagem de feminilidade e consumo vendida pelas revistas especializadas. Dois universos inconciliáveis, o do trabalho industrial e o da publicidade, se chocam ao serem colocados lado a lado no filme Ser mulher.
 
O programa conta com os seguintes filmes:
 
A paixão do grão
(La passione del grano)

Cecilia Mangini e Lino Del Fra (como Antonio Michetti) | Itália | 1960, 11’, 35 mm para digital
(Cinemateca de Bolonha)
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Maria e os dias
(Maria e i giorni)

Cecilia Mangini | Itália | 1960, 11’, 35 mm para digital (Videa S.p.A. e Cinemateca de Bolonha)
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O canto da margem
(La canta delle marane)

Cecilia Mangini | Itália | 1961, 11’, 35 mm para digital (Cinemateca de Bolonha)
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A rainha do peiote
(Peyote Queen)

Storm De Hirsch | EUA | 1965, 9’, 16 mm para digital (The Film-Makers’ Cooperative)
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Tommaso
(Tommaso)

Cecilia Mangini | Itália | 1965, 11’, 35 mm para digital (Cinemateca de Bolonha)
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Ser mulher
(Essere donne)

Cecilia Mangini | Itália | 1965, 30’, 35 mm para digital (Cinemateca de Bolonha e AAMOD – Fondazione Archivio Audiovisivo del Movimento Operaio e Democratico)

 
Programa 2: “Apresentando Storm De Hirsch” (dia 26, às 16h, 71min)
 
O filme poético Silenciosamente carregando o totem de um pássaro foi parte de uma série de trabalhos em super-8 que Storm De Hirsch chamou de “cine-canções”. Ele acompanha, sob diversos ângulos, o fluxo das águas de um rio em uma paisagem bucólica no estado de Nova York, da manhã até o entardecer. Mergulhamos então no Expresso de setembro (que De Hirsch chamou de um “cine-soneto”) e na paisagem frenética e silenciosa da vista de um trem que segue de Roma para Veneza. São belas imagens, oscilando entre a figura e a abstração, de campos, reflexos de pessoas e borrões que prolongam uma sensação de nostalgia pungente. Com tom melancólico e destrutivo, passamos então para o breve Trap Dance, um trocadilho com a palavra “sapateado” em inglês (tap dance), que utiliza imagens de arquivo e intervenções na película para expressar a estupidez da guerra e o enfraquecimento do ser humano em um mundo dominado pela tecnologia. Segue então o filme-performance Borboleta do terceiro olho – uma experiência psicodélica, visual e sonora, com projeção em tela dupla, quádrupla e até óctupla. Após esse transe de luzes, cores, ritmos e ruídos, vem uma imersão em um ritual de morte milenar na região italiana de Salento. No filme de Cecilia Mangini Stendalì (ainda soam) (cuja narração foi escrita por Pier Paolo Pasolini), mulheres cantam em um dialeto antigo e dançam aos prantos a perda de um filho querido, dentro do recinto claustrofóbico e delirante onde reside o morto. Por fim, voltamos ao cinema de De Hirsch com um filme inspirado em um de seus poemas, cujos versos dizem: “E me agarro aguerrido ao relógio/ que dirige com seus braços minha vida”. Os personagens de O Homem Tatuado são divididos em “fazedores do sonho”, “sonhadores do sonho” e “assassinos do sonho”. Uma história construída a partir de sons e imagens enigmáticas e sinistras, nas quais as figuras de Homem e Mulher são confrontadas em sua masculinidade e feminilidade, tendo como resultado a perda da inocência.
 
O programa conta com os seguintes filmes:
 
Silenciosamente carregando o totem de um pássaro
(Silently, Bearing Totem of a Bird)

Storm De Hirsch | EUA | 1962, 7’, Super-8 para digital (The Film-Makers’ Cooperative)
+
Expresso de setembro
(September Express)

Storm De Hirsch | EUA | 1973, 6’, 16 mm para digital (The Film-Makers’ Cooperative)
+
Trap Dance
(Trap Dance)

Storm De Hirsch | EUA | 1968, 2’, 16 mm para digital (The Film-Makers’ Cooperative)
+
Borboleta do terceiro olho
(Third Eye Butterfly)

Storm De Hirsch | EUA | 1968, 9’, 16 mm para digital (The Film-Makers’ Cooperative)
+
Stendalì (ainda soam)
(Stendalì: suonano ancora)

Cecilia Mangini | Itália | 1960, 11’, 35 mm para digital (Cinemateca de Bolonha)
+
O Homem Tatuado
(The Tattooed Man)

Storm De Hirsch | EUA | 1969, 36’, 16 mm para digital (The Film-Makers’ Cooperative)

 

TEXTOS
 
"Uma entrevista com Cecilia Mangini"
 
"Poemas de Storm De Hirsch"

 

Web site IMS - Sessão Mutual Films - Informações e ingressos
MUTUAL FILMS