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Johnny Guitar
Nicholas Ray | EUA. | 1954, 110’, 35 mm para DCP restaurado (Park Circus) O personagem-título do nono longa-metragem de Nicholas Ray foi interpretado por Sterling Hayden no auge da fama do ator. O cowboy que uma vez foi conhecido como Johnny Logan trocou sua arma por uma guitarra e, no início do filme, chega aos confins do Arizona em busca de uma nova vida. Lá, ele se depara com uma figura do seu passado. No único bar e cassino da cidade, à espera da modernização com a promessa da construção da ferrovia, a proprietária Vienna (Joan Crawford, também uma produtora do filme) cuida do que é dela com os colhões de um homem, rodeada de ameaças de uma população local de criadores de gado que via o progresso como uma intimidação a seu estilo de vida puritano. O grupo – liderado de forma vocífera pela banqueira Emma Small (Mercedes McCambridge) – tenta banir Vienna da cidade, ao acusá-la de ficar na companhia do bandido Dancing Kid (Scott Brady), que havia sido acusado falsamente de assassinato. No meio das intrigas que surgem, Vienna alista a ajuda de Johnny – o amor de sua vida, que ela abandonou cinco anos atrás e que agora reencontra com amargura e esperança. O cineasta norte-americano Ray fez o faroeste Johnny Guitar após realizar os emblemáticos filmes noir Amarga esperança (They Live By Night, 1948), No silêncio da noite (In a Lonely Place, 1950) e Cinzas que queimam (On Dangerous Ground, 1951). Como em muitos dos seus filmes – inclusive no faroeste contemporâneo Paixão de bravo (The Lusty Men, 1952) –, os protagonistas são pessoas feridas e marginalizadas, que buscam refúgio de uma sociedade ameaçadora. E, neste caso, a busca teve dimensões políticas, pois Ray e seus roteiristas Philip Yordan e Ben Maddow vislumbraram a história como uma alegoria para as perseguições anticomunistas então em voga nos Estados Unidos. (Maddow, inclusive, estava na Lista Negra de Hollywood e não recebeu crédito pela sua participação no roteiro do filme.) Em Johnny Guitar, as forças da lei e do capitalismo são as mais destrutivas, capazes de incitar violência em massa. Enquanto isso, Vienna e Johnny são pessoas que cometem o pecado de valorizar amor e amizade. Crawford (a quem o romance de Roy Chanslor que deu origem ao filme foi dedicado), clássica estrela de Hollywood, preferiu não assumir posições políticas publicamente, apesar de sua formação conservadora. Ela exigiu que Vienna tivesse a força dos protagonistas masculinos dos faroestes e disse para o roteirista Yordan: “Deixe Sterling brincar sozinho no canto”.[1] Por sua parte, Hayden, um ex-membro do Partido Comunista, publicamente denunciou colegas de Hollywood como comunistas, mas depois continuou a se associar com artistas e causas de esquerda, muitas vezes de forma autocrítica. “Eu não entendo Johnny Guitar”, ele disse em 1982 para os documentaristas alemães mais jovens Manfred Blank e Wolf-Eckart Bühler. “Eu nunca soube o que eu estava fazendo no filme”. [2] A crítica norte-americana também não entendeu Johnny Guitar, achando o estilo demasiado florido e a narrativa incompreensível. Porém, o filme foi um sucesso de bilheteria, algo que ajudou Ray posteriormente a fazer Juventude transviada (Rebel without a Cause, 1955) e outros filmes de maior estrutura. Johnny Guitar, realizado no pequeno estúdio Republic Pictures, foi o segundo filme colorido de Ray, e também sua primeira experiência com a janela widescreen, embora o filme tenha circulado durante anos na janela Academy. A restauração em 4K de Johnny Guitar, que terá sua estreia brasileira no IMS Paulista, apresenta a versão widescreen do filme. A primeira exibição será apresentada pelo crítico, jornalista e historiador de cinema Paulo Santos Lima.
[1] Citado em inglês no texto de Jonathan Rosenbaum
“Johnny Guitar: The First Existential Western”
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[2] A fala de Hayden se encontra no documentário de média-metragem de Blank e Bühler Da âncora, pouse abaixo: um filme estrelado por Sterling Hayden (Vor Anker, Land unter: Ein Film mit Sterling Hayden, 1982), que aparece como um extra na edição em DVD de Farol do caos que foi lançada pela Edition Filmmuseum em 2018. |
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