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Kummatty, o bicho-papão (Kummatty)
Aravindan Govindan | Índia | 1979, 90', 35 mm para DCP Na vasta e rasteira paisagem de Cheemeni, uma pequena aldeia no norte do estado indiano de Querala, as crianças chamam Kummatty (interpretado pelo músico e artista folclórico Ramunni), uma figura mítica, com aparência de um homem magro, barbudo e velho, que aparece carregando máscaras de animais durante a primavera. Kummatty tem um sorriso largo, um glorioso dom de canto e, apesar de seu jeito inofensivo, o poder de transformar as crianças em bichos diversos. E ele o faz, como numa brincadeira. Acompanhamos a breve visita de Kummatty, junto à trajetória do menino Chindan (interpretado por Master Ashokan), que, após ser transformado em um cachorro, foge de seus colegas e acaba se perdendo. A experiência de Chindan é transformadora em mais de um sentido: vindo de aulas escolares nas quais ele absorve métodos ingleses clínicos e científicos de entender o mundo, baseados num conceito de controle do ser humano sobre o meio-ambiente, seus dias de cachorro lhe ensinam que todo ser vivo tem direito à liberdade. Kummatty, o bicho-papão foi o quarto filme dirigido por Aravindan Govindan (1935-1991) e hoje é um de seus mais celebrados. O cineasta (que nasceu e cresceu em Querala) fez de sua breve filmografia uma exploração da complexa e delicada relação entre seres humanos e a natureza, com um olhar poético voltado para a necessidade de cada indivíduo se libertar de gaiolas físicas e espirituais. Ele idealizou Kummatty como uma alegoria pedagógica voltada para crianças, e elaborou as paisagens, as músicas originais (criadas por M. G. Radhakrishnan e Kavalam Narayana Panicker) e a estrutura folclórica da narrativa pensando em um público infantil. A figura titular do filme é baseada livremente nos emissários do deus Shiva, que são interpretados por dançarinos masculinos mascarados durante a celebração anual da temporada de colheita em Querala, chamada Kummattikali. Aravindan disse sobre sua versão do personagem que "Kummatty tem uma persona dupla - uma personalidade real e uma personalidade assumida... Sua personalidade atual se encontra entre o mito e a realidade, e, ainda assim, não há nenhum traço de fantasia nele." [1] O filme ganhou o prêmio anual dado para o melhor filme infantil feito em Querala e foi celebrado como uma obra importante para adultos, inclusive pelo crítico e historiador de cinema japonês Tadao Sato, que declarou Kummatty, o bicho-papão o filme mais bonito na história do cinema. Porém, assim como a obra geral de Aravindan (frequentemente produções independentes de baixo orçamento), por muito tempo ele esteve fora de circulação, e o negativo original se perdeu. A versão de Kummatty que terá sua estreia brasileira no IMS foi restaurada em 4K em 2021, a partir de duas cópias em 35 mm, pelo World Cinema Project (da The Film Foundation), a Film Heritage Foundation e a Cinemateca de Bolonha, no laboratório L'Immagine Ritrovata. O trabalho foi feito em parceria com General Pictures e a família de Aravindan, em consulta com o cinegrafista original do filme e colaborador frequente de Aravindan, Shaji N. Karun, e com apoio dado pela Material World Foundation. Um outro filme crucial de Aravindan, Thamp (A tenda do circo, 1978), foi restaurado em 2022.
[1] Frase tirada de uma entrevista com Aravindan, originalmente publicada na língua malaia na revista indiana Deep Focus, em 1990.
Apresentação de Ramu Aravindan para Kummatty, o bicho-papão |
MUTUAL FILMS |