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"O Camaleão"
(Chameleon Street, dir. Wendell B. Harris, Jr., E.U.A., 1990, 94min, 35 mm para DCP, filme restaurado pela Arbelos Films sob a supervisão do cineasta) Em um debate com o crítico Elvis Mitchell, em 1990, Wendell B. Harris, Jr. se deu conta de que seu filme havia sido silenciado. O diretor, produtor, ator, montador e roteirista norte-americano (nascido em 1954 em Flint, Michigan) conversava sobre seu longa-metragem de estreia, O Camaleão, que ganhou o prêmio principal do Festival de Sundance em 1990 e foi celebrado por figuras como Steven Soderbergh como uma obra crucial do novo cinema independente norte-americano. Porém, meses depois, não havia nenhum sinal de um contrato de distribuição do filme. A única proposta que Harris recebeu, e aceitou, veio da Warner Brothers, para os direitos de refilmagem de O Camaleão, porém, posteriormente, ficou evidente para o cineasta que o estúdio não tinha intenção de seguir com o projeto, e nem de distribuir o original. O Camaleão é uma comédia ácida que conta a história real de William Douglas Street, Jr. (interpretado no filme pelo próprio Harris, um ator de formação clássica), que personificou profissionais de sucesso - como um repórter da revista Time, um cirurgião residente formado em Harvard e um advogado -, sem possuir qualquer experiência formal. Doug Street personificou o sonho consumista americano, do qual homens negros como ele eram excluídos. Para Harris, este foi o aspecto mais fascinante da história, além da própria genialidade do vigarista que executou mais de trinta histerectomias bem-sucedidas e causou tamanha impressão como advogado que levou seus superiores a declararem que as portas do escritório estariam abertas caso ele se endireitasse. Harris entrevistou Street - que, na época, vivia em uma cela de prisão - ao longo de dois anos e registrou detalhadamente suas histórias e seu raciocínio sagaz para recontar sua ascensão e queda. O filme resultante conta com várias referências do cinema de arte europeu, como filmes de Jean Cocteau e Jean-Luc Godard, que ajudam a apresentar o protagonista como um alienígena no seu contexto norte-americano. O Camaleão circulou por anos em lançamentos pequenos, enquanto Harris e sua produtora (Prismatic Images, Inc.) mantiveram os materiais originais do filme em bom estado de preservação. Ele foi escaneado em 4K e restaurado digitalmente a partir dos negativos originais em 2021, um processo assumido pela Arbelos Films - uma distribuidora e selo de restauração especializada em filmes independentes (como O funeral das rosas, de Toshio Matsumoto) que busca ampliar o cânone do cinema. O trabalho aconteceu entre Los Angeles e Flint em plena pandemia. Enquanto o time da Arbelos enviava trechos da restauração para Harris, ele enviava seu feedback detalhado. Diferentemente de muitos casos de restauração envolvendo o cineasta autor, o trabalho com o filme foi de pouca intervenção, mantendo a maior fidelidade possível à versão original. Harris continua desenvolvendo projetos e O Camaleão segue sendo seu único longa-metragem até o momento. |
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