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"Verde correndo com cavalos"
Ute Aurand | Alemanha/Inglaterra | 2019-2020, 86', 16 mm

 
Relances de uma visita a Orkney no verão de 1995
(Glimpses from a Visit to Orkney in Summer 1995)
Ute Aurand | Alemanha/Reino Unido | 2020, 4', 16 mm
 
Verde correndo com cavalos
(Rasendes Grünmit Pferden)
Ute Aurand | Alemanha | 2019, 82', 16 mm
 
Em 2015, a cineasta alemã Ute Aurand começou a trabalhar na edição do que se tornou seu primeiro longa-metragem. Ela mergulhou em seus arquivos fílmicos e revisitou um total de seis horas de material gravado em 16 mm para criar o romântico Verde correndo com cavalos. Da janela de um trem em movimento, observamos um gramado verde onde correm duas pessoas a cavalo, intercalando com árvores ora de folhagem verde, ora de flores brancas. Conforme a proximidade dos objetos, vemos apenas um borrão colorido ou, ao longe, formas bem definidas. O filme desenvolve um movimento de aproximação e distanciamento das imagens registradas,o que passa a sensação de uma valsa de lembranças. Vemos crianças crescerem, tornarem-se adultos e tornarem-se pais, vemos adultos envelhecerem. Vemos protagonistas de diversos outros filmes de Aurand e momentos domésticos com o cineasta norte-americano Robert Beavers - uma presença importante na vida e no trabalho da artista desde a década de 1990. Esses personagens vêm e vão, e, quando nos esquecemos de alguém, logo este alguém retorna para relembrarmos de sua presença, em momentos que saboreiam simultaneamente o passado e o presente.
 
Como descreve Aurand, o filme é um "conjunto de observações e encontros breves, filmados entre 1999 e 2018, em casa e em viagem, com amigos e a sós. Gestos íntimos despertam a minha atenção: o 94º aniversário de Jón, Sofia dançando, James e Robert transportando o projetor de 16 mm, neve em Cape Cod, Detel [sua irmã artista] no estúdio dela, o casamento de Sabrina e Franz, uma visita a Detroit. Vemos as mesmas pessoas em idades diferentes. Por vezes, alguém fala. Outras vezes, há música ou silêncio."
 
Verde correndo com cavalos estreou em 2019 no Festival Internacional de Cinema de Berlim, na mostra Forum Expanded, e tem viajado o mundo desde então. Ele terá sua estreia brasileira no IMS, em seu formato original de 16 mm, com a presença de Aurand para apresentar as sessões. Ele vai passar com um curta-metragem mudo recente de Aurand, Relances de uma visita a Orkney no verão de 1995, que foi comissionado pelo projeto Margaret Tait 100 junto a curtas de outros nove artistas e cineastas em homenagem à diretora Margaret Tait.
 

"Sobre Video Poems for the 90s"
 
O texto a seguir foi escrito por Ute Aurand em 2004 e publicado em inglês no livro Subjects and Sequences: A Margaret Tait Reader, editado por Peter Todd e Benjamin Cook. O texto original pode ser conferido através do link Remembering Margaret Tait (1918-1999) .   Ele aparece aqui em tradução para português com o consentimento de Aurand.
 
Foi no verão de 1995 quando fui para o norte para visitar Margaret Tait nas ventosas Ilhas Orkney. Dois anos antes, uma amiga a mencionou como uma cineasta poética e pessoal que me interessaria, então, quando cheguei a Londres, assisti a todas as cópias dos filmes que a Cooperativa tinha e fiquei tão empolgada com os filmes, que trouxemos cópias para Berlim para distribui-los e exibi-los, e depois para muitos outros lugares na Alemanha e na Suíça.
 
Então lá estava eu no kirk de Margaret, seu estúdio, em uma antiga igreja da cidade. Mas as horas mais bonitas que passamos juntas foram as que assistimos todos os filmes que eu não havia visto - em sua pequena sala escura e pintada de verde, com uma tela emoldurada de dourado, do tamanho de uma pintura… o cinema mais bonito! Uma pintura em movimento!
 
Alguns dias depois, Margaret me mostrou seu 'roteiro' Video Poems for the 90s, que ela escreveu após a televisão escocesa lhe pedir um roteiro de 12 minutos, porém eles não quiseram filmá-lo. Margaret havia pensado ele como uma espécie de modelo, que outros também pudessem usar para fazer um filme.
 
Ela me perguntou se queríamos filmar dois "poemas" - então pegamos nossas câmeras Bolex e fomos até a beira do mar, procuramos ferrugem e pássaros e filmamos 'virando uma página'…
 
Foi muito bom trabalhar junto lá no interior de Orkney com Margaret Tait filmando com sua Bolex, que ela não usava há muito tempo, porque ela estava muito envolvida em seu filme em 35 mm, Blue Black Permanent (1992), e agora ela estava trabalhando em um novo roteiro, também para um longa-metragem em 35 mm…
 
Nós não terminamos os filmes-poemas, mas foi um começo inesquecível… sem fim.
 
MUTUAL FILMS