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Dia 7 de novembro (sexta-feira), às 19h30:
 
A dama de Constantinopla
(Sziget a szárazföldön)

Hungria | 1969 | 79 minutos | 35 mm para DCP
Direção: Judit Elek
Classificação Indicativa: Livre (LEG)
 
Judit Elek fez seu longa-metragem de estreia (cujo título original se traduz como “uma ilha em terra firme”) sobre o problema da moradia em sua cidade natal de Budapeste. A dama de Constantinopla acompanha uma velha solitária (interpretada por Manyi Kiss, uma grande estrela do cinema húngaro, em um de seus últimos papéis). A viúva sem filhos passa seus dias relembrando sua juventude e forte vínculo com o pai – um comandante de navio que a levou para conhecer o mundo. Enquanto a mulher abastada vive em seu passado glorioso, habitando um apartamento espaçoso e cheio de suvenires de lugares distantes, seus vizinhos mais pobres e amargurados são esfolados pelo trabalho doméstico e pela aglomeração. Ela procura compartilhar suas histórias com todos ao seu redor, porém o desespero resultante da escassez da vida presente não permite sonhos ou lembranças daqueles que a rodeiam. A morte de um vizinho idoso e a crescente pressão dos outros ajudam a dama a decidir trocar de apartamento, algo então comum em uma sociedade que pregava a necessidade de sacrificar os bens individuais pelo bem coletivo. A dama de Constantinopla é o filme mais celebrado de Elek e sua cópia restaurada passou nos últimos anos em Cannes e em Roterdã, entre outros festivais. A exibição do filme na Cinemateca Capitólio será acompanhada por um vídeo de uma curta entrevista com Judit Elek, gravada em dezembro de 2024, na qual ela descreve por que resolveu se tornar uma diretora de cinema.
 


 
Dia 8 de novembro (sábado), às 17h:
 
“Filmes do Estúdio Béla Balázs” (3 filmes, Hungria, 1963-1968, 106min total, seguido por debate)
 
Encontro
(Találkozás)
Hungria | 1963 | 20 minutos | 35 mm para DCP
Direção: Judit Elek
Classificação Indicativa: Livre (LEG)
+
Habitantes de castelos na Hungria
(Kastélyok lakói)
Hungria | 1966 | 27 minutos | 35 mm para DCP
Direção: Judit Elek
Classificação Indicativa: Livre (LEG)
+
Por quanto tempo dura o homem?
(Meddig él az ember? I-II)

Hungria | 1968 | 59 minutos | 35 mm para DCP
 
Judit Elek foi uma das fundadoras do Estúdio Béla Balázs, um importante espaço na Hungria para jovens cineastas, voltado para a realização de documentários e filmes experimentais. Elek fez dois curtas e um média-metragem no estúdio antes de entrar na direção de longas-metragens. O filme híbrido Encontro conta com a participação do escritor solitário Iván Mándy (amigo de Elek), que publicou um anúncio de jornal com uma proposta de um encontro amoroso. O filme inicia em um amplo quarto de hospital em Budapeste, onde acompanhamos uma enfermeira cuidando de cada um dos enfermos, homens jovens e velhos. Vemos ela em sua casa, arrumando-se para sair e, então, em uma praça onde crianças brincam e velhos jogam xadrez. Em um banco da praça, a enfermeira, que respondeu ao anúncio de jornal, encontra seu pretendente (Mándy), e os dois seguem juntos caminhando e conversando. A câmera se movimenta de tal forma que podemos observar todo o entorno do casal de meia-idade, cujas falas são registradas com som direto, de forma revolucionária para o cinema húngaro da época.
 
Encontro foi muito criticado pelos colaboradores de Elek no estúdio, e ela fez seu segundo documentário somente três anos depois. Habitantes de castelos na Hungria é um filme estruturado em cinco momentos que mostram de forma cuidadosamente observacional como diversos castelos húngaros históricos estavam sendo usados na época das filmagens. De um museu, a uma moradia de gatos e de um velho casal, a um lar de idosos, e, finalmente, a uma escola com jovens alunos que refletem sobre os antigos moradores do local. Elek nos leva a imaginar como a sociedade húngara se transformou nos últimos cem anos.
 
Filmado em duas partes, o documentário observacional Por quanto tempo dura o homem? foi a primeira colaboração de Elek com o cinegrafista Elémer Ragalyi (após duas colaborações com István Zöldi). A primeira parte retrata um velho operário de fábrica, Tio Pista, no meio das preparações para sua aposentadoria. Imerso em uma profunda solidão, o vemos a caminho do trabalho, orientando um subordinado na fábrica, se encontrando com os colegas para a despedida e voltando para sua esposa. E a segunda metade dedica-se a um garoto que está se preparando para entrar no mundo de trabalho. De sua vida de criança no campo, para a vida de operário na cidade, onde, junto com outros jovens, começa a receber treinamento na fábrica, passando a impressão de que o garoto está aposentando a sua infância. O filme foi escolhido para Cannes, porém, não passou devido ao cancelamento do festival em reação às manifestações na França de 1968.
 
A exibição na Cinemateca Capitólio dos três filmes da Judit Elek do Estúdio Béla Balázs será seguida por debate com a pesquisadora de filmes dirigidos por mulheres, Carla Oliveira, e Aaron Cutler (um dos organizadores da mostra).
 
Minibio da convidada:
Carla Oliveira
é crítica de cinema filiada à Abraccine e à Accirs. Tem textos publicados no fanzine impresso de cinema Zinematógrafo, na revista digital do Cineclube Academia das Musas, na MUNDI, Cultura em Revista, na revista Teorema, no jornal Zero Hora, nas publicações de cinema da Versátil Home Video, no site Leitura Fílmica e no site Casa Alpendre.
 


 
Dia 9 de novembro (domingo), às 17h:
 
No campo de Deus em 1972-73
(Istenmezején 1972-73-ban)

Hungria | 1974 | 75 minutos | 35 mm para DCP
Direção: Judit Elek
Classificação Indicativa: Livre (LEG)
 
Após ser proibida por uma década de realizar longas-metragens de ficção, com a censura do roteiro de seu filme O processo de Martinovics e dos jacobinos húngaros, Judit Elek mergulhou na realidade austera de um vilarejo de mineradores nas províncias húngaras (cujo nome, Istenmezején, se traduz como “No campo de Deus”) para acompanhar a vida de jovens mulheres, cujo principal recurso econômico era o matrimônio. Elek se muda para a região e vive ali por anos, registrando intimamente a vida dessas meninas, da adolescência ao início da vida adulta, e de suas famílias, muitas vezes através de entrevistas nas quais a diretora aparece em cena. Com uma bela fotografia preto e branco de Elemér Ragályi (também responsável pela fotografia de A dama de Constantinopla, entre outros filmes de Elek) e um estilo documental do cinema verdade, ouvimos depoimentos comoventes sobre o desejo de trabalhar ou de se envolver amorosamente, assim como as vozes de parentes céticos. Assistimos algumas das jovens e mulheres na colheita no campo, na fabricação de tijolos, nos rituais escolares e domésticos, compondo um retrato de uma sociedade ainda muito ligada a tradições feudais, e a tentativa de algumas dessas jovens de escapar de um destino preso ao passado. Elek depois fez um segundo documentário em Istenmezején, Uma história comum, que também está incluído nesta mostra.
 


 
Dia 9 de novembro (domingo), às 19h:
 
Uma história comum
(Egyszeru torténet)

Hungria | 1974 | 100 minutos | 35 mm para DCP
Direção: Judit Elek
Classificação Indicativa: Livre (LEG)
 
Com um tom mais confessional e íntimo, o filme Uma história comum, que serve como a continuação do documentário anterior de Judit Elek – No Campo de Deus em 1972-73 – aproxima-se de duas personagens que passam por mudanças profundas que acabam impactando a própria realidade do vilarejo de Istenmezején. Mariska, que, como acompanhamos no primeiro filme, se recusava a entregar-se à opção precária do matrimônio, após a conclusão do colégio faz um estágio em uma fábrica, manipulando maquinário pesado, uma função predominantemente masculina, e acaba sendo violentada por dois de seus colegas. Assistimos a jovem no tribunal sendo interrogada pelo juiz, e os olhares aflitos de sua mãe, enquanto ela explica por que optou por tentar tirar a própria vida ao invés de se dirigir imediatamente à família e à polícia para denunciar o ocorrido. Ela continua sua jornada solitária por independência trabalhando pesado nos cuidados domésticos em um asilo. Em paralelo, acompanhamos os desdobramentos do relacionamento amoroso de Ilonka e Laci, um jovem que trabalha nas minas de carvão. O conflito emerge na insatisfação da família que não aprova o matrimônio devido à idade de Ilonka, que tem apenas 15 anos. A jovem renúncia aos estudos para trabalhar enquanto não consegue casar-se, até descobrir estar grávida. A família então se mobiliza para apoiar o casal. A bela fotografia preto e branco de Elemér Ragályi dedica-se constantemente aos planos fechados na face, exacerbando a proximidade e criando uma sensação de sufocamento que reflete a própria existência dos personagens. Elek pretendia fazer um terceiro filme sobre o vilarejo, porém a má repercussão na mídia local do segundo, provocou uma quebra de confiança entre a população de Istenmezején e a diretora. Ainda assim, os dois documentários são um retrato impactante pela crueza na qual retratam a vida rural na Hungria dos anos 70.
 


 
Dia 22 de novembro (sábado), às 16h:
 
Despertar
(Ébredés)

Hungria/França/Polônia | 1994 | 110 minutos | 35 mm para DCP
Direção: Judit Elek
Classificação Indicativa: Livre (LEG)
 
O filme Despertar é baseado em um romance autobiográfico que Judit Elek escreveu em meados da década de 1960 e levou para a telona como um longa-metragem de ficção somente três décadas depois. A protagonista do filme é Kati (interpretada por Fruzsina Eszes), uma adolescente judia em Budapeste nos anos de 1950. Ela navega uma série de desafios no seu dia a dia – o antissemitismo, o estalinismo, a ausência do seu pai por motivos de um trabalho distante e a morte recente da sua mãe (Judit Hernádi), que volta como um fantasma para fazer companhia para sua filha que vive isolada no meio de um apartamento comunitário. Embora a história de Kati seja diferente da adolescência de Elek em diversos aspectos, a cineasta tomou um enorme cuidado em recriar os detalhes de sua juventude, até nas escolhas dos filmes que Kati assiste em suas idas ao cinema. O estilo narrativo clássico do filme é muitas vezes calmo e suave, e os encontros que Kati tem com os outros moradores são frequentemente engraçados. Mas, quando o despertar sexual da jovem mulher chega através da relação com um vendedor de livros, é algo ao mesmo tempo inevitável e doloroso e enfatiza a solidão com qual ela terá de viver – talvez para sempre.
 


 
Dia 23 de novembro (domingo), às 18h30:
 
O processo de Martinovics e dos jacobinos húngaros
(Vizsgálat Martinovics Ignác szávári apát és társai ugyében)

Hungria | 1981 | 126 minutos | 35 mm para DCP
Direção: Judit Elek
Classificação Indicativa: Livre (LEG)
 
Realizado para a televisão húngara em 1981, O processo de Martinovics e dos jacobinos húngaros retrata os últimos dias do padre franciscano, químico e filósofo Ignác Martinovics (1755-1795), que durante o reinado do Imperador Leopoldo II no Império Austro-Húngaro trabalhou para o governo para promover reformas progressistas. Com a morte do imperador, seu filho mais velho assume o poder, Martinovics (interpretado por János Ács) se torna uma figura subversiva, envolvido em sociedades secretas dedicadas a proteger as reformas. Ele e alguns de seus parceiros são finalmente executados. Baseando-se nos registros originais do processo, Judit Elek cria um personagem perturbado que durante extensas conversas com o conselheiro responsável pelo caso (interpretado por Tamás Fodor), procura a qualquer custo negociar sua salvação. A diretora explora dramaticamente o contraponto entre a aflição do investigador que procura provas concretas para evitar uma injustiça na pena capital, a dissimulação desesperada do acusado que arrasta consigo para forca outros supostos membros de seu grupo e a frieza de um governo impiedoso que está mais interessado em punir para dar exemplo do que na própria verdade. A produção original do filme foi censurada – e Elek proibida por 10 anos de realizar filmes de ficção – nos anos 1970, quando a diretora tentou realizá-la pela primeira vez, pela similaridade com eventos da Revolução Húngara de 1956, reprimida na época pelo governo socialista húngaro apoiado pela ex-União Soviética.

 
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