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Curtas do Estúdio Cinematográfico Golestan
Ebrahim Golestan / Forough Farrokhzad | Irã | 1961-1965, 69' (IMS Rio) / 91' (IMS Paulista), 35 mm para DCP (Cinemateca de Bolonha)
 
Um fogo
(Yek atash)
Ebrahim Golestan | Irã | 1961, 25', DCP
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Colheita e semente
(Kharman va bazr)
Ebrahim Golestan | Irã | 1965, 29', DCP
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As joias da coroa iraniana
(Ganjineha-ye Gohar)
Ebrahim Golestan | Irã | 1965, 15', DCP
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A casa é escura
(Khaneh siah ast)
Forough Farrokhzad | Irã | 1962, 22', DCP

 
No final da década de 1950, Ebrahim Golestan montou uma pequena equipe de jovens técnicos para iniciar o Estúdio Cinematográfico Golestan, a primeira produtora independente de cinema no Irã. Entre 1958 e 1967, a produtora realizou diversos documentários de curta e média-metragem sobre as riquezas e mazelas do país. O programa no IMS apresenta três destes filmes que foram dirigidos pelo próprio Golestan.
 
O impactante Um fogo, vencedor de dois prêmios no Festival Internacional de Cinema de Veneza, retrata de forma processual os esforços de uma equipe de trabalhadores para conter as chamas de uma fuga de gás em um poço de petróleo no sudoeste do Irã. Com uma abordagem sutilmente crítica, as imagens impressionantes da labareda de fogo expressam o poder destrutivo do dinheiro sobre a natureza. Colheita e semente apresenta a situação de permanente escassez de pequenos agricultores iranianos, mesmo após a reforma agrária do início dos anos 1960 através de uma série de conversas in loco com os habitantes de uma aldeia empobrecida. O filme, que foi censurado e confiscado à época e exibido fora do Irã apenas décadas depois, é uma crítica explícita a uma reforma malsucedida em termos da democratização da terra. As joias da coroa iraniana foi comissionado pelo então diretor do Banco Central do Irã, porém Golestan não poupou críticas ao luxo e excessos da família real frente à vida sofrida de grande parte da população. O filme confronta imagens fotográficas, filmagens das vastas paisagens do país e de camponeses arando a terra, com as das inestimáveis joias reais que se encontram no Museu do Banco Central do Irã. Logo no início, ouvimos a narração de Golestan enquanto estudamos as joias resplendentes de perto: "Esses tesouros não possuem equivalentes em tamanho e valor. Eles foram deixados pelos reis. Eles também são a história de um povo."
 
As exibições do programa em São Paulo também contam com o filme A casa é escura, que foi produzido por Golestan, comissionado pela Sociedade de Assistência à Pessoa com Hanseníase e dirigido por Forough Farrokhzad, uma celebrada e polêmica poeta iraniana que compunha a equipe do estúdio (no Rio de Janeiro, A casa é escura passará em março na Cinemateca do MAM). O filme é fruto dos doze dias que Farrokhzad passou em uma colônia de pessoas com hanseníase perto da cidade de Tabriz, após conseguir a confiança dos que ali viviam isolados em uma condição deplorável devido à doença e que possuíam um forte ressentimento daqueles que vinham de fora para observá-los. Ela se deu conta de que a vida ali não era diferente do cotidiano de qualquer outro ser humano e assim convidou o público a perceber o comum numa condição limítrofe. Testemunhamos o cotidiano de homens, mulheres e crianças em diferentes estágios da doença, enquanto ouvimos informações objetivas sobre a hanseníase, narradas por Golestan, e uma súplica a Deus, narrada por Farrokhzad.  A casa é escura, que ganhou a competição principal do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Oberhausen e é tido hoje como um dos melhores documentários de todos os tempos, é ao mesmo tempo uma alegoria sobre uma sociedade doente e um chamado compassivo contra o preconceito.
 
Os filmes do programa foram restaurados em 4K pela Cinemateca de Bolonha dentro de um projeto maior da restauração da obra do Estúdio Cinematográfico Golestan. As restaurações foram produzidas por Mitra Farahani, cineasta iraniana e autora de um documentário sobre Golestan (Até sexta, Robinson / À vendredi, Robinson, de 2022), que irá introduzir o programa presencialmente no IMS Rio.
 
Mitra Farahani é cineasta, pintora e escultora, nasceu em Teerã em 1975. Em 1998, se mudou para Paris, onde reside atualmente. Seus filmes incluem os longas-metragens Fifi grita de felicidade (Fifi az Khoshhali Zooze Mikeshad, 2013), um retrato documental do artista iraniano Bahman Mohassess, e Até sexta, Robinson (À vendredi, Robinson, 2022), registro de um período de correspondência entre os cineastas Jean-Luc Godard e Ebrahim Golestan. Através de sua produtora, Écran Noir Productions, ela produziu o filme de Godard Imagem e Palavra (Le livre d'image, 2018) e o projeto de restauração dos filmes do Estúdio Cinematográfico Golestan pela Cinemateca de Bolonha.
 
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